Para os alunos que não fizeram o simulado I, estou disponibilizando uma outra interpretação. Lembrando que deverá ser entregue em folha de caderno com nome, número e série e apenas o gabarito, ou seja, o número da questão e alternativa escolhida. Para sexta-feira (22/11/2013)
PEDRO – O HOMEM DA FLOR
Se você se enquadra entre aqueles que
se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em
quando, a um desses muitos barezinhos elegantes de Copacabana, é provável que
já tenha visto alguma vez Pedro – o homem da flor. Se, ao contrário, você é de
dormir cedo, então não. Então você nunca viu Pedro – o homem da flor – porque
jamais ele circulou de dia a não ser lá, na sua favela do Esqueleto.
Quando anoitece, Pedro pega a sua
clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em
papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta
madrugada, entrando nos bares – em todos os bares, porque Pedro conhece todos –
vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta o que conseguiu ganhar
naquele dia e vai comer qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta
para casa como qualquer funcionário público que tivesse cumprido zelosamente
sua tarefa, na repartição a que serve.
Conversei uma vez com Pedro – o homem
da flor. Já o vinha observando quando era o caso de estar num bar em que ele
entrava. Via-o chegar e dirigir-se às mesas em que havia um casal. Pedia
licença e estendia a cesta sobre a mesa. Psicologia aplicada, dirão vocês, pois
qual o homem que se nega a oferecer uma flor à moça que o acompanha, quando se
lhe apresenta a oportunidade? Sim, talvez Pedro seja um bom psicólogo, mas,
mais do que isso, é um romântico. Quando o homem mete a mão no bolso e pergunta
quanto custa a flor, depois de ofertá-la à companheira, Pedro responde com um
sorriso:
— Dá o que o senhor quiser, moço. Flor
não tem preço.
Como eu ia dizendo, conversei uma vez
com Pedro e, desse dia em diante, temos conversado muitas vezes. Ele sabe de
coisas. Sabe, por exemplo, que a rosa branca encanta as mulheres morenas,
enquanto que as louras, invariavelmente, preferem rosas vermelhas. Fiel às suas
observações, é incapaz de oferecer rosas brancas às mulheres louras, ou vice-versa.
Se entra num bar e as flores de sua cesta são todas de uma só cor, não
coincidindo com o gosto comum às mulheres presentes, nem chega a oferecer sua
mercadoria. Vira as costas e sai em demanda de outro bar, onde estejam mulheres
louras, ou morenas, se for o caso.
O pequeno buquê de violetas – quando
as há – é carinhosamente arrumado pelas suas mãos grossas de operário, assim
como também as hastes prateadas das rosas. Saibam todos os que se fizeram
fregueses de Pedro – o homem da flor – que aquele papel prateado artisticamente
preso na haste das rosas e que tanto encanta as moças foi antes um prosaico
papel de maços de cigarros vazios, que o próprio Pedro recolheu por aí, nas
suas andanças pela madrugada.
Sei que Pedro ama a sua profissão,
tira dela o seu sustento, mas acima de tudo esforça-se por dignificá-la. Não vê
que seria um mero mercador de flores! Lembro-me da vez em que, entrando pelo
escuro do bar, trouxe nas mãos a última rosa branca para a moça morena que
bebia calada entre dois homens. Quando os três levantaram a cabeça ante a sua
presença, pudemos notar – eu, ele e as demais pessoas presentes – que a moça
era linda, de uma beleza comovente, suave, mas impressionante. Pedro
estendeu-lhe a rosa sem dizer uma palavra e, quando um dos rapazes quis
pagar-lhe, respondeu que absolutamente não era nada. Dava-se por muito feliz
por ter tido a oportunidade de oferecer aquela flor à moça que ali estava. E
sem ousar olhar novamente para ela, disse:
_ Mais flores eu daria se mais flores
eu tivesse!
Assim é Pedro – o homem da flor.
Discreto, sorridente e amável, mesmo na sua pobreza. Vende flores quase sempre
e oferece flores quando se emociona. Foi o que aconteceu na noite em que, mal
chegado a Copacabana, viu o povo que rodeava o corpo do homem morto, vítima de
um mal súbito. Só depois é que se soube que Pedro o conhecia do tempo em que
era porteiro de um bar no Lido. Na hora não. Na hora ninguém compreendeu,
embora todos se comovessem com seu gesto, ali abaixado a colocar todas as suas
flores sobre as mãos do homem morto. Pois foi o que Pedro fez, voltando em
seguida para a sua favela do Esqueleto.
Naquela noite não trabalhou.
PONTE PRETA, Stanislaw. Dois amigos e
um chato. São Paulo: Moderna, 1986. p. 5-6.
1)A personagem Pedro vendia flores em
(A) bares de Copacabana.
(B) favelas no Esqueleto.
(C) portarias no Lido.
(D) repartições públicas.
(E) nenhuma das anteriores.
2)No segundo parágrafo, o narrador
relata o sucesso da venda de flores quando Pedro
(A) enrola as hastes em papel
prateado.
(B) enrola as hastes das flores e
sai.
(C) entra nos bares e fica até de
madrugada na rua.
(D) conta o dinheiro e vai comer.
(E) Nenhuma das anteriores.
3)O fato que origina a crônica é a
observação do narrador sobre
(A) o comportamento do vendedor.
(B) a disposição das mesas do bar.
(C) o mistério das mulheres.
(D) a organização das flores no cesto.
(E) nenhuma das anteriores.
4)O
narrador apresenta a fala do personagem na seguinte passagem:
(A)
“Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor”.
(B)
“Sim, talvez seja um bom psicólogo”.
(C) “– Mais flores daria se mais
flores tivesse”.
(D) “Assim é Pedro – o homem da flor”.
(E) nenhuma das anteriores.
5)Do
trecho ”Naquela noite não trabalhou”, pode-se deduzir que a personagem
(A) deixara todas as suas flores no
chão.
(B) era uma pessoa cheia de amargura
(C) estava cansado de vender flores.
(D)
ficara triste com a morte do colega.
(E)
nenhuma das anteriores.
6)O narrador conta a trajetória
profissional de seu personagem com
(A) hostilidade e arrogância.
(B) tristeza e arrependimento.
(C) espanto e simpatia.
(D) ironia e desprezo.
(E) nenhuma das anteriores.
No dia 1°, o fiscal me impediu de expor
na feira do Trianon. Me inscrevi em 2004, fiz teste de aptidão, paguei taxas de
uso de solo e de licença, e comecei a trabalhar na semana seguinte. O juiz que
cassou a liminar provavelmente nem leu o processo. Nossa advogada anexou
documentos provando a legalidade dos expositores que estão com problemas porque funcionários da Prefeitura
perderam os documentos de quem fez teste em 2004. Nós, artesãos, criamos
objetos de arte considerados cultura no mundo todo menos no Brasil. E, aos 63 anos, não
tenho perspectiva de conseguir outro trabalho.
José Eduardo Pires
Vila Maria Alta
A Prefeitura responde:
Com referência à feira do Trianon,
jamais houve perda de documentos. No início de 2006, a Sub Pinheiros
entregou as pastas de documentação para a Sub Sé. Na análise técnica do material,
viu-se que havia expositores trabalhando irregularmente, sem que as aprovações
fossem publicadas no Diário Oficial da Cidade de São Paulo, obrigatórias para
que a comunidade saiba quem foram os aprovados e as atividades para as quais
estão autorizados.
Andrea Matarazzo
Secretário das Subprefeituras e Subprefeito da
Sé
(São Paulo Reclama. O Estado de S.Paulo, 12 de agosto
de 2007, p. C2)
7)A carta do leitor identificado acima tem a
finalidade de
(A) defender a venda de produtos de artesanato,
como símbolos de cultura.
(B) queixar-se do fato de ter sido impedido de
trabalhar numa feira de artesanato.
(C) dirigir-se ao juiz que desconsiderou as
razões apresentadas por uma advogada.
(D) solicitar a interferência de uma advogada
para defender seus direitos.
(E) nenhuma das anteriores.
Há
um desgaste mais doloroso que o da roupa, e é o da linguagem, mesmo porque sem
recuperação. Certa moça dizia-me de um seu admirador entrado em anos, homem que
brilhava no Rio de Machado de Assis e Alcindo Guanabara:
–
Ele é tão velho, que me encontrando à porta de uma perfumaria disse: Boa ideia,
vou te oferecer um vidro de água de cheiro!
(ANDRADE,
Carlos Drummond de. Confissões de Minas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
p.601.)
8) No primeiro
parágrafo, o autor deixa claro que há
(A) várias línguas no
Rio de Janeiro.
(B) uma língua de
Machado de Assis.
(C) mudanças naturais
na linguagem.
(D) somente uma
linguagem no texto.
(A)
a água deve ser inodora.
(B)
a moça prefere perfume.
(C)
o galanteador da moça era idoso.
(D)
o admirador não gosta de perfume.
10) A expressão "homem
que brilhava no Rio de Machado de Assis e Alcindo Guanabara", que
aparece em crônica publicada em 1944, faz pensar que
(A)
o personagem era amigo de Machado e Alcindo.
(B)
o homem referido era contemporâneo dos dois autores.
(C)
havia um brilho especial nesses dois autores.
(D)
havia outros escritores brilhantes no Rio de Janeiro.
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