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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Interpretação de texto

Para os alunos que não fizeram  o simulado I, estou disponibilizando uma outra interpretação. Lembrando que    deverá ser entregue   em folha de caderno com nome, número e série e apenas o gabarito, ou seja,  o número da questão e  alternativa escolhida.  Para sexta-feira (22/11/2013)
 
                     PEDRO – O HOMEM DA FLOR
          Se você se enquadra entre aqueles que se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em quando, a um desses muitos barezinhos elegantes de Copacabana, é provável que já tenha visto alguma vez Pedro – o homem da flor. Se, ao contrário, você é de dormir cedo, então não. Então você nunca viu Pedro – o homem da flor – porque jamais ele circulou de dia a não ser lá, na sua favela do Esqueleto.
Quando anoitece, Pedro pega a sua clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta madrugada, entrando nos bares – em todos os bares, porque Pedro conhece todos – vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta o que conseguiu ganhar naquele dia e vai comer qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta para casa como qualquer funcionário público que tivesse cumprido zelosamente sua tarefa, na repartição a que serve.
         Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor. Já o vinha observando quando era o caso de estar num bar em que ele entrava. Via-o chegar e dirigir-se às mesas em que havia um casal. Pedia licença e estendia a cesta sobre a mesa. Psicologia aplicada, dirão vocês, pois qual o homem que se nega a oferecer uma flor à moça que o acompanha, quando se lhe apresenta a oportunidade? Sim, talvez Pedro seja um bom psicólogo, mas, mais do que isso, é um romântico. Quando o homem mete a mão no bolso e pergunta quanto custa a flor, depois de ofertá-la à companheira, Pedro responde com um sorriso:
— Dá o que o senhor quiser, moço. Flor não tem preço.
Como eu ia dizendo, conversei uma vez com Pedro e, desse dia em diante, temos conversado muitas vezes. Ele sabe de coisas. Sabe, por exemplo, que a rosa branca encanta as mulheres morenas, enquanto que as louras, invariavelmente, preferem rosas vermelhas. Fiel às suas observações, é incapaz de oferecer rosas brancas às mulheres louras, ou vice-versa. Se entra num bar e as flores de sua cesta são todas de uma só cor, não coincidindo com o gosto comum às mulheres presentes, nem chega a oferecer sua mercadoria. Vira as costas e sai em demanda de outro bar, onde estejam mulheres louras, ou morenas, se for o caso.
         O pequeno buquê de violetas – quando as há – é carinhosamente arrumado pelas suas mãos grossas de operário, assim como também as hastes prateadas das rosas. Saibam todos os que se fizeram fregueses de Pedro – o homem da flor – que aquele papel prateado artisticamente preso na haste das rosas e que tanto encanta as moças foi antes um prosaico papel de maços de cigarros vazios, que o próprio Pedro recolheu por aí, nas suas andanças pela madrugada.
Sei que Pedro ama a sua profissão, tira dela o seu sustento, mas acima de tudo esforça-se por dignificá-la. Não vê que seria um mero mercador de flores! Lembro-me da vez em que, entrando pelo escuro do bar, trouxe nas mãos a última rosa branca para a moça morena que bebia calada entre dois homens. Quando os três levantaram a cabeça ante a sua presença, pudemos notar – eu, ele e as demais pessoas presentes – que a moça era linda, de uma beleza comovente, suave, mas impressionante. Pedro estendeu-lhe a rosa sem dizer uma palavra e, quando um dos rapazes quis pagar-lhe, respondeu que absolutamente não era nada. Dava-se por muito feliz por ter tido a oportunidade de oferecer aquela flor à moça que ali estava. E sem ousar olhar novamente para ela, disse:
_ Mais flores eu daria se mais flores eu tivesse!
         Assim é Pedro – o homem da flor. Discreto, sorridente e amável, mesmo na sua pobreza. Vende flores quase sempre e oferece flores quando se emociona. Foi o que aconteceu na noite em que, mal chegado a Copacabana, viu o povo que rodeava o corpo do homem morto, vítima de um mal súbito. Só depois é que se soube que Pedro o conhecia do tempo em que era porteiro de um bar no Lido. Na hora não. Na hora ninguém compreendeu, embora todos se comovessem com seu gesto, ali abaixado a colocar todas as suas flores sobre as mãos do homem morto. Pois foi o que Pedro fez, voltando em seguida para a sua favela do Esqueleto.
Naquela noite não trabalhou.
PONTE PRETA, Stanislaw. Dois amigos e um chato. São Paulo: Moderna, 1986. p. 5-6.
 
1)A personagem Pedro vendia flores em
(A) bares de Copacabana.
(B) favelas no Esqueleto.
(C) portarias no Lido.
(D) repartições públicas.
(E) nenhuma das anteriores.
 
2)No segundo parágrafo, o narrador relata o sucesso da venda de flores quando Pedro
(A) enrola as hastes em papel prateado.
(B) enrola as hastes das flores e sai.
(C) entra nos bares e fica até de madrugada na rua.
(D) conta o dinheiro e vai comer.
(E) Nenhuma das anteriores.
 
 
3)O fato que origina a crônica é a observação do narrador sobre
(A) o comportamento do vendedor.
(B) a disposição das mesas do bar.
(C) o mistério das mulheres.
(D) a organização das flores no cesto.
(E) nenhuma das anteriores.
 
 
 
 
4)O narrador apresenta a fala do personagem na seguinte passagem:
(A) “Conversei uma vez com Pedro – o homem da flor”.
(B) “Sim, talvez seja um bom psicólogo”.
(C) “– Mais flores daria se mais flores tivesse”.
(D) “Assim é Pedro – o homem da flor”.
(E) nenhuma das anteriores.
 
5)Do trecho ”Naquela noite não trabalhou”, pode-se deduzir que a personagem
(A) deixara todas as suas flores no chão.
(B) era uma pessoa cheia de amargura
(C) estava cansado de vender flores.
(D) ficara triste com a morte do colega.
(E) nenhuma das anteriores.
 
6)O narrador conta a trajetória profissional de seu personagem com
(A) hostilidade e arrogância.
(B) tristeza e arrependimento.
(C) espanto e simpatia.
(D) ironia e desprezo.
(E) nenhuma das anteriores.
 
 
 
No dia 1°, o fiscal me impediu de expor na feira do Trianon. Me inscrevi em 2004, fiz teste de aptidão, paguei taxas de uso de solo e de licença, e comecei a trabalhar na semana seguinte. O juiz que cassou a liminar provavelmente nem leu o processo. Nossa advogada anexou documentos provando a legalidade dos expositores 􀀐que estão com problemas porque funcionários da Prefeitura perderam os documentos de quem fez teste em 2004. Nós, artesãos, criamos objetos de arte considerados cultura no mundo todo 􀀐menos no Brasil. E, aos 63 anos, não tenho perspectiva de conseguir outro trabalho.
José Eduardo Pires
Vila Maria Alta
 
A Prefeitura responde:
Com referência à feira do Trianon, jamais houve perda de documentos. No início de 2006, a Sub Pinheiros entregou as pastas de documentação para a Sub Sé. Na análise técnica do material, viu-se que havia expositores trabalhando irregularmente, sem que as aprovações fossem publicadas no Diário Oficial da Cidade de São Paulo, obrigatórias para que a comunidade saiba quem foram os aprovados e as atividades para as quais estão autorizados.
Andrea Matarazzo
Secretário das Subprefeituras e Subprefeito da Sé
(São Paulo Reclama. O Estado de S.Paulo, 12 de agosto de 2007, p. C2)
 
7)A carta do leitor identificado acima tem a finalidade de
(A) defender a venda de produtos de artesanato, como símbolos de cultura.
(B) queixar-se do fato de ter sido impedido de trabalhar numa feira de artesanato.
(C) dirigir-se ao juiz que desconsiderou as razões apresentadas por uma advogada.
(D) solicitar a interferência de uma advogada para defender seus direitos.
(E) nenhuma das anteriores.
 
 
 
Há um desgaste mais doloroso que o da roupa, e é o da linguagem, mesmo porque sem recuperação. Certa moça dizia-me de um seu admirador entrado em anos, homem que brilhava no Rio de Machado de Assis e Alcindo Guanabara:

– Ele é tão velho, que me encontrando à porta de uma perfumaria disse: Boa ideia, vou te oferecer um vidro de água de cheiro!

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissões de Minas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. p.601.)



8) No primeiro parágrafo, o autor deixa claro que há

(A) várias línguas no Rio de Janeiro.

(B) uma língua de Machado de Assis.

(C) mudanças naturais na linguagem.

(D) somente uma linguagem no texto.


 
9) O uso da expressão "vidro de água de cheiro" indica que

(A) a água deve ser inodora.

(B) a moça prefere perfume.

(C) o galanteador da moça era idoso.

(D) o admirador não gosta de perfume.


 
10) A expressão "homem que brilhava no Rio de Machado de Assis e Alcindo Guanabara", que aparece em crônica publicada em 1944, faz pensar que

(A) o personagem era amigo de Machado e Alcindo.

(B) o homem referido era contemporâneo dos dois autores.

(C) havia um brilho especial nesses dois autores.

(D) havia outros escritores brilhantes no Rio de Janeiro.

 
 
 

 
 

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